terça-feira, 6 de março de 2012

Eusébio de Cesaréia (265-340)


Nasceu em Cesaréia da Palestina. Foi nomeado bispo desta mesma cidade em 313, onde morreu. Eusébio é um dos personagens chaves da história eclesiástica de seu tempo e tem um lugar reconhecido como historiador da Igreja. De fato, sua vida está intimamente ligada às lutas trinitárias do séc. IV, ao arianismo e à figura do imperador Constantino, de quem foi biógrafo e amigo.

Antes de mais nada, Eusébio é conhecido por sua História eclesiástica, um riquíssimo arquivo de dados, documentos e extratos de obras de toda classe, desde a primeira época da Igreja até o ano 324. Diz-se que sua História eclesiástica é para a Igreja dos primeiros séculos o mesmo que os Atos dos Apóstolos foram para as comunidades cristãs. Embora esse livro lhe tenha valido o título de “pai da história eclesiástica”, a historiografia de hoje não lhe perdoa o caráter apologético que Eusébio dá a sua obra, seu tratamento inadequado à heresia e sua quase total ignorância ou omissão de tudo que era relativo à Igreja Ocidental. Como historiador tem também outro livro intitulado Histórias diversas e a Vida de Constantino, panegírico que, além de importantes dados históricos, demonstra uma admiração e uma exaltação exagerada pelo papel e missão excepcionais deste imperador.

Além das obras históricas, Eusébio escreveu obras dogmáticas: Contra Marcelo e Sobre a teologia eclesiástica, na qual surge uma tendência acentuada para o arianismo, defendendo a não identidade de natureza entre o Pai e o Logos.

Seu livro apologético mais importante é a Preparação evangélica, em 20 livros, dos quais restam apenas 10. Servindo-se da rica biblioteca de Cesaréia, que herdou de seu mestre Pânfilo, acumulou um vastíssimo material de extratos de escritos gregos, cujos originais se perderam. Essa obra é regida pelos seguintes princípios:

— A filosofia e a revelação são idênticas. A verdade encontrou sua plena expressão no cristianismo que já havia surgido nos filósofos gregos.

— Platão é considerado como um profeta ou como um Moisés ático. Platão e Moisés combinam e têm as mesmas idéias.

— Platão conheceu a Trindade Divina porque pôs a alma do mundo ao lado de Deus e do Logos. Nas doutrinas éticas e pedagógicas coincidem Platão e Moisés, Platão e São Paulo. Porém, Platão chegou apenas até o vestíbulo da verdade, não à própria verdade.

— A verdade foi revelada pelo cristianismo, verdadeira e definitiva filosofia. No cristianismo, não só os homens são filósofos, também o são as mulheres, os ricos e os pobres, os escravos e os senhores.

Como se vê, é a mesma convicção que havia animado Justino, Clemente, Orígenes e, em geral, os padres alexandrinos.

FONTE: Breve dicionário de pensadores cristãos. Santidrián.

A RELAÇÃO IGREJA-ESTADO NA ANTIGUIDADE CRISTÃ

Com a expansão e crescimento do cristianismo, este se tornou uma força dominante. A partir do envolvimento estreito com o poder secular, imperial, o cristianismo deixou de ser uma religião perseguida e malvista, e em fins do século IV tornou-se a Igreja única e perseguidora do paganismo.
O período anterior ao imperador Constantino foi marcado pelo distanciamento da Igreja em relação ao “Estado”. O cristianismo reivindicava um exclusivismo absoluto. Além dessa novidade o cristianismo também introduziu na sociedade novidades em relação à civilização antiga: distinção entre religião e política; reivindicação da liberdade de consciência no relacionamento com Deus.

FASES DA PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS: DE NERO A DIOCLECIANO.

Fatores que geraram e fomentaram as perseguições: recusa do reconhecimento da competência do estado em questões religiosas; propaganda anticristã por parte das comunidades judaicas; ameaça aos negócios (sacerdotes, comerciantes, adivinhos, astrólogos e mestres de escola); conduta moral severa; aura de mistério acerca da fé e das celebrações litúrgicas.
O primeiro período de perseguição aos cristãos (séculos I-II) é marcado pela aversão da opinião pública sobre os cristãos. Os principais imperadores que perseguiram a Igreja foram: Nero (54-68); Dominciano (81-96); Trajano (98-117); e Marco Aurélio (161-180).
O segundo período (século III ao início do IV) é marcado pelo fator político. Os imperadores que perseguiram a Igreja foram: Séptimo Severo (193-211); Maximino Trácio (235-238); Décio (249-251); Valeriano (253-260); Galieno (260-267); Diocleciano (284-305).
Enfim o imperador Galério (305-311), ao reconhecer que as perseguições não davam bons resultados, concedeu aos cristãos a liberdade de culto aos cristãos através do edito de tolerância (311), mas não lhes restituiu seus bens.

A GUINADA CONSTANTINIANA

Ao triunfar sobre seus adversários, Constantino, em 313, selou um acordo com Licínio (outro na disputa imperial), o protocolo de Milão. Neste acordo o cristianismo foi equiparado às demais religiões sendo mantida a liberdade de culto, e os bens confiscados dos cristãos lhes foram restituídos.
A partir de 337, o poder imperial foi exercido pelos filhos de Constantino: Constantino II, Constante e Constâncio. Houve neste período uma tentativa de restabelecimento do paganismo através do sobrinho de Constâncio, que em 361 foi proclamado imperador pelo exército das Gálias.
Em 27 de fevereiro de 380, o imperador Teodósio impôs a todos os cidadãos a religião cristã. Todos teriam que professar a fé da Igreja. É a partir desta data que, oficialmente, o cristianismo se tornou a religião oficial do império romano, ou seja o cristianismo se tornou uma religião de estado.

Texto adaptado de MONDONI, D. História da Igreja na antigüidade. São Paulo: Loyola, 2006.