quarta-feira, 24 de abril de 2013

AS ESCOLAS MONÁSTICAS NO ORIENTE CRISTÃO



Há indicações nos textos de João Cassiano (Instituições monásticas), Pacômio (Regra Monástica), que mostram que os Pais do deserto acolheram entre si adolescentes e até mesmo crianças. Estes jovens recebiam basicamente uma educação moral e ascética, era muito mais uma formação espiritual do que intelectual. Inicialmente o monaquismo restaurou na tradição cristã o “primado dos simples”, opondo-se ao orgulho intelectual próprio da cultura clássica, às tendências gnósticas e alexandrinas que ameaçavam, no século III, sufocar a simplicidade evangélica.

Ainda que a simplicidade fosse a tônica, naturalmente foi-se afirmando um caráter douto no monasticismo devido ao imperativo estudo das Escrituras. No Oriente era normal conhecê-las de cor e para isso era necessário lê-las. Pacômio, em sua Regra (320-340), prescreve que se um ignorante entra em um mosteiro deveria receber inicialmente vinte salmos e duas epístolas para aprender. Se não soubesse ler receberia lições à razão de três horas por dia. Todos no mosteiro deveriam saber ler e aprender de cor, no mínimo, todos os Salmos e o Novo Testamento. (p. 503)

Na Regra de São Basílio as crianças, apresentadas por seus pais, eram aceitas e iniciadas nas letras com vistas ao estudo da Bíblia. Uma vez assimilado o silabário, aprendia-se a ler nomes isolados, depois máximas e em seguida pequenas histórias. E assim eram usados nomes de personagens bíblicos, versículos do Livro dos Provérbios e histórias santas.

Por volta de 375, João Crisóstono, tentou persuadir os pais cristãos a transferirem a educação de seus filhos, a partir dos dez anos de idade, aos monges dos desertos vizinhos de Antioquia. Sua intenção era formar um caráter cristão puro e cristalino nos jovens, implementar uma vida virtuosa cristã. Os rapazes deveriam permanecer dez anos, vinte se necessário. Percebendo os problemas dessa postura o próprio Crisóstono mudou de ideia e insistirá na obrigação dos pais em educar seus filhos à maneira cristã. (p. 505)
Em 451, o Concílio de Calcedônia interditou formalmente a educação, nos monastérios, de crianças que voltariam para o mundo (paides kosmikoi). O que comprometia a paz e o recolhimento próprio da vida monástica.

No Ocidente, carente da lembrança nostálgica dos mestres iletrados da primeira geração monástica, o monasticismo desenvolveu outros matizes. A lectio divina esteve sempre ligada ao bom exercício da vida monástica. Desde muito cedo o monasticismo ocidental teve um marcante caráter letrado.
Santo Agostinho, em sua Regra, prevê como normal a existência de uma biblioteca no monastério. Os monges de São Martinho, iniciador do monasticismo na Gália, copiavam manuscritos. São Patrício, evangelizador da Irlanda, quando lhe traziam um jovem para se tornar monge ele o batizava e lhe dava um alfabeto. (p. 507)

A partir do século VI as exigências monásticas se tornam maiores, se tornando imprescindível a todo monge ou freira saber ler e de entregar-se à leitura sagrada. A Regra de São Cesário de Arles (534), direcionada para mulheres, prescreve que se deveria admitir crianças a partir dos seis ou sete anos e que fossem capazes de aprender as letras. Todas as religiosas deveriam aprender a ler, consagrando duas horas diárias à leitura, e também copiariam manuscritos. (p. 507)

Praticamente todas as demais regras monásticas prescrevem a lectio divina. E toda essa preocupação com o letramento dos religiosos alcançará expressão ainda mais ampla a partir da Regra de São Bento (c. 525 d.C.). (p. 508)

referência: MARROU H. História da educação na antiguidade. São Paulo: Herder, 1966.

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